Alguns conceitos...

Quando, no colégio, até o fim do ensino fundamental, eu não gostava de português, mas ao mudar de professora, uma pessoa muito preocupada com o falar/escrever certo, para um professor preocupado com o comunicar bem, tudo mudou na minha vida. Foi nessa época que entendi a importância e a necessidade de uma boa comunicação, de entender bem as coisas. Além do sentido prático, aquele de dicionário “isso = aquilo”, existe o sentido mais amplo, algo que não se prende a uma única palavra, o conceito das coisas. Para efeito didático, dicionários trazem apenas o sentido das palavras e não o conceito, sendo assim algo muito restrito. Isso gera confusão em muitos casos, pelo não entendimento de certos conceitos.
Um conceito que sempre me é recorrente para explicar muitos dos meus pontos de vista e desfazer certas confusões é o de “Fatos e Realidades”. De forma simples: Fato é o acontecimento e Realidade é o ponto de vista. Ex: “Um rapaz é roubado perto da favela”. O roubo é fato, acontecimento, o imutável. O que se irá discutir são as realidades, os pontos de vista a cerca do fato, podendo haver várias realidades (a do roubado, a do ladrão, a dos observadores, etc.). Realidade não é o fato, realidade é um ponto de vista, é a parte do fato que conseguimos enxergar.
E isso dentro da fotografia? Foto é ponto de vista, foto não reproduz um ambiente 3D, com possibilidade de girar, aproximar ou decompor. A foto só nos mostra um angulo de visão por vez, um lado da parede a cada click, uma distância por fotograma. E de posse desses conceitos vamos esbarrar em muita coisa. Alguns dos principais debates do fotojornalismo, por exemplo. Quanto de Photoshop deve ter uma foto? Foto é realidade? Muita gente acredita que a realidade do fotojornalismo deve ser a mais próxima possível da vista humana. Eu pessoalmente acho esse prisma muito pobre. Os jornalistas estão sempre relatando fatos mediante algum ponto de vista político, e nós, fotógrafos, de algum ponto de vista estético. Resumir esses fatos a um ponto de vista estético só é empobrecer a fotografia. O que seria do jornalismo com apenas uma visão política? Mostrar outras realidades não é mudar os fatos.
No recente caso do fotógrafo dinamarquês Klavs Bo Christensen, por exemplo, me parece ter ocorrido esse tipo de confusão. Enquanto humanos vêem milhões de cores, alguns insetos podem ver apenas tons de cinza e uma tamarutaca (foto) pode ver muito mais cores que qualquer outro. "Toda cor é uma interpretação que o cérebro faz dos sinais luminosos. Por isso, nunca se saberá ao certo se duas pessoas enxergam uma cor exatamente da mesma maneira. Às vezes, a percepção de uma cor pode ser afetada pelo efeito de contraste". Eu pergunto: qual visão é mais real?! Se o fato não foi distorcido, para mim o fotojornalismo é válido.

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